A febre: filme nacional premiado é falado em língua indígena

O filme A Febre, lançado em 2019 e dirigido por Maya Da-Rin, cineasta e artista visual carioca, ganhou popularidade pelo seu reconhecimento entre os críticos. A obra cinematográfica, que é falada tanto em português quanto na língua indígena tukano, foi premiado no Festival de Locarno (Suíça) e no Festival de Biarritz (França). 

No Brasil, venceu o concorrido prêmio de Melhor Filme na 52ª edição do Festival de Brasília, além de direção, ator principal, fotografia e som.

Um dos pontos curiosos de A febre é seu aspecto bilíngue. Em geral, o filme é apresentado em duas línguas. O português é o idioma utilizado pelos atores Regis Myrupu e Rosa Peixoto, que interpretam Justino e Vanessa, pai e filha, enquanto estão no trabalho. Quando estão em casa, porém, a dupla recorre ao tukano, língua indígena de povos que vivem no Alto Rio Negro, na fronteira do Brasil com a Venezuela.

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Interpretação em tukano selecionada e reconhecida

Os atores, aliás, foram selecionados com extremo rigor. A diretora Maya Da-Rin levou cerca de um ano para definir o elenco desse longa. Nesse período, Maya conversou com aproximadamente 500 pessoas. E a escolha parece ter dado certo. Regis Myrupu recebeu o prêmio de melhor ator do Festival de Locarno e no Festival de Brasília.

O roteiro de A Febre foi escrito em português, mas acabou sendo reescrito na medida em que se realizavam os ensaios. Foi um trabalho e tanto para conciliar as duas línguas e dar o tom ideal aos diálogos. De acordo com Maya, começavam lendo a cena em língua portuguesa, depois liam todos juntos para dar um toque de improviso. 

Os atores faziam a cena em tukano e Maya observava, por exemplo o movimento corporal. Em seguida, a mesma cena era interpretada em português, e a diretora entendia como os diálogos haviam sido modificados. “A gente ia e voltava, tanto que cada cena foi feita em 10, 15 takes. Entendi que era necessário repetir e repetir”, revela Maya.

Sobre o filme A Febre

A ideia de Maya produzir o longa metragem surgiu a partir de dois documentários criados por ela mesmo. A Margem (2006) e Terras (2009), ambos dirigidos pela cineasta carioca e realizados na região da Amazônia. Foi naquele momento em que Maya teve contato bem próximo com famílias indígenas que haviam deixado aldeias na floresta para viver na cidade, ou seja, fora de sua realidade cultural até então. 

“O filme fala do embate que ocorre em um momento da vida de uma família e também de como os personagens estão experienciando o contato com a sociedade não indígena. Todo o processo de produção do filme acabou permeado por isso”, acrescenta Maya.

Em síntese, o filme conta a história de Justino, um viúvo indígena do povo desano que vive em Manaus, a capital amazonense há cerca de duas décadas. Justino trabalha como vigia no porto, enquanto a filha Vanessa é enfermeira e trabalha em um posto de saúde na periferia de Manaus. 

A filha, porém, foi aceita para estudar medicina na Universidade de Brasília e a notícia afeta Justino de forma intensa. O pai acaba acometido por uma febre intermitente, e o coloca em situações difíceis. Durante o dia, ele luta para se manter acordado no trabalho, onde enfrenta algumas complicações. E, quando a noite chega, Justino se vê perseguido por uma criatura misteriosa.

Veja abaixo o teaser do filme:

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